terça-feira, junho 23, 2009

Da dança


Pintura de Jacqui Faye


Concede-me por hoje apenas
Por um instante
Por um segundo
Por uma vez [que importa?]
Num rodopiar de verbos substantivos e acervos de lembrança
Os teus dedos [toca-me]
Os teus nervos [sente-me]
O borbulhar de sangue em tua aorta
O teu corpo
Contra
O meu corpo. Os meus nervos. Os meus dedos.
in Acto de entrega e fé.

A máscara que me oculta Não temas: é branca.

[O rosto que vendo, não vês, tem de ti secular arquivo:
Um alaúde toca em proximidade longínqua,
Estudante de Coimbra em serenata…
O Mondego ao fundo e Pedro e sua Inês…].

Concede-me a dança.
Passo a passo
Ponto a ponto
Num compasso miscigenado de fúria e calma: tango ou valsa.

Essência de fogo em ponta de lança. Ou espelho d’água.

Sou. Somos. És…

Poema de
bonecadetrapo[em saltos altos]

segunda-feira, junho 15, 2009

Caída da vida

Confesso que abrir o Club dos Poetas Vivos num espaço como o Facebook foi um autêntico desafio.

As chamadas redes sociais nunca me atraíram já que, a minha simpatia, vai para o mundo da blogosfera, pela forma intercultural de comunicação.

Quase a perfazer um mês (nasceu a 18 de Maio) com 284 membros efectivos, no Club dos Poetas Vivos pretende-se juntar todos aqueles que partilham o mundo literário, quer com as suas próprias palavras, quer com as dos outros.

É, igualmente, um local onde poderão dar "asas" à imaginação, publicando, interrogando, afirmando e partilhando tudo aquilo de que gostam.

Aderiram à administração deste projecto e a quem agradeço desde já a disponibilidade Isabel Maria Cruz, a Wind do WebClub, Carlos Peres Feio de Podiamsermais e Luís Pinto colaborador da Truca do Estúdio Raposa e de Queridos Gatos.

Neste sentido, os poemas aqui publicados passarão a constar no Club dos Poetas Vivos.

Obrigada a todos.




Marcha para o palpável
esta ilharga soprada
e crua que me acerba
os elementos.

Vida para trás, a razão
do ritmo abrasa-me o pensamento
exaltante. Faísca o tão poliglota
perfume do lume que alumia
em volta o corpo virado
do avesso, como se o crânio
deixasse o agir filtrado
pela luz do osso.

Vida para trás, miúdo para a frente,
junto ao sistema de atirar
o invólucro da mãe
ao casco granito choro
e adeus brotado conjugado
com o jogo do grito.

Fala à frente da saudade, olhos
em flecha atirada à conjugação
da palavra nunca. A vida move-se,
o viver pára onde o sujeito se divide
em inerências e arranques
atacantes à madeira fechada, ao granito
frio, ao corpo que era quente
de amor.

Há cada vez menos fenómenos de amor
no mundo.
******

Poema de pedro s. martins in escara voltaica

Imagem:Pintura Medieval de autor desconhecido